Imagem: Fabiano Reloaded - Parque Farroupilha, Porto Alegre

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Não vá a todos os lugares – Livro Vozes de um Encontro*

Surpreendido pela recomendação do mestre a um chela de que ele não deveria entrar em determinada aldeia, antes de atingir  própria iluminação, o discípulo resolveu inquiri-lo a esse respeito:

- Mestre, isso não é faltar a caridade para com os que ali estão? Talvez pudesse nosso amigo levar algo de bom como exemplo.

-  Outros o farão. As ligações do passado as vezes, são tão perturbadoras que se tornam capazes de alterar as frequências mentais do indivíduo. Enquanto ele não se libertar de suas injunções, não deve arriscar-se, porque pode haver turbulências muito grandes e despertar um furacão arrasador; é preferível conhecer a temperatura dos ambientes e os recursos interiores antes de alguns contatos. Jesus após curar um enfermo, libertando-o da perseguição espiritual, recomendou-lhe não reingressar na cidade onde vivia. Sem esta providência ninguém sabe o que lhe poderia ter acontecido. Há experiências para as quais ainda não estamos preparados, e assim é bom respeitar o fator tempo. Mangas verdes não alimentam nem são tão saborosas



* De Yogashriishnam (espírito), por Elzio Ferreira de Souza

sábado, 8 de outubro de 2011

O Camponês e a Bomba

Naquela manhã,
como de costume,
fui até o alto da colina
ver o sol e o campo vasto,
mas acabei vendo algo que jamais esqueci...
me parei então a olhar aquele clarão.
Juro que nunca tinha visto uma coisa parecida...
uma luz tão brilhante
que ofuscou meus olhos,
precisei desviá-los por breve instante.
Pensei:
"será o chamado divino?
O dito juízo final?
Será que Deus veio ter com a humanidade
agora que decidiram se matar
nesta guerra insana?
E eu, o que eu faço agora?
Me refugio em casa,
ou contemplo esta beleza de luz?"
Olhei admirado que ela cresceu,
cresceu...
foi se expandindo, expandindo...
Estranho foi ver, no entanto,
que seguiu-se ao clarão de forte estrondo
uma nuvem tão gigantesca de fumaça,
que primeiro era clara,
clarinha,
mas que depois foi ficando escura,
escura....
e escureceu tudo.
Já não pude mais ver
o que se passva,
todo o vale fora coberto pela nuvem
densa cor cinza opaca.
Ouvi então outros sons, como fosse chama
consumindo tudo que lhe fica no caminho.
E, passado mais um tempo,
enquanto a fumaça mais e mais subia para o céu,
o cheiro que subiu até a colina era
pior que o de enxofre.
A partir daí foi possível ouvir gritos de pavor,
de súplica, de desespero...
as vozes eram tantas que se faziam
escutar apesar da enorme distância
em que eu me encontrava,
e os lamentos eram tais que
até hoje,
quando fecho meus olhos,
os ouço retumbando
dentro da minha cabeça,
como ecos do passado a me atormentar....
e foi aí exatamente nessa hora
que eu corri para casa
e me tranquei lá.
Me  escondi embaixo da cama,
feito uma criança sem mãe,
e acho que adormeci,
porque acordei atordoado
já de noitinha.
Tive certeza que o que eu acabara de presenciar
era sim o dito juízo final...
Deus veio primeiro,
cheio de luz buscar os justos,
mas assim que Ele se retirou
o diabo tomou conta e foi
aquele horror que eu pude escutar.
A julgar pelo tempo da luz
e o tempo da fumaça
com cheiro de coisa queimada,
a esta altura o céu tem um
punhado de almas abençoadas,
mas o inferno,
ah, este deve estar lotado!
Só não entendi por que
que aqui em casa não veio
nem um nem outro...
se bem que se eu ainda
estou vivo é por que Deus
não julgou ser aquele o meu momento.
Decerto Ele decidiu me dar mais alguns anos
para eu poder pensar no que vi e
refletir sobre a vida,
sobre aquela guerra que
nunca entendi bem
e sobre a paz!
Tenho por vezes a impressão
que o outro também interferiu
de alguma maneira no meu destino.
Me deixou como lembrança
daquele dia definitivo
um monte de bolinhas que
me saem pelo corpo,
um bocado de coceira e ardência
para eu sempre pensar antes de cometer os
meus erros e pecados...
me levou alguns animais,
secou algumas árvores
e a plantação.
Ainda nos dias de hoje,
em determinadas épocas,
vejo brotar frutas e verduras
deformadas...
Bom, como sempre
eu digo e sustento:
se Deus decidiu me poupar,
não vão ser estas artes do outro
que vão me impedir de amar
tudo aquilo que meus olhos tocam,
ah não!
Por isso eu aproveito
cada dia para agradecer a Deus
e para refletir sobre a vida,
sobre a guerra
e sobre a PAZ!


Escrito no inverno  de 2011 - Rashmi.